PERGUNTAS FREQUENTES

A cirurgia deu certo?

Sim, muito certo por sinal, pra ser sincero esperava um resultado mais satisfatório, mas supriu minhas necessidades voltando a ter uma visão compativel com meu estilo de vida.

Quanto tempo levou?

A cirurgia durou cerca de 10 minutos, tudo muito rápido e prático.

É dolorosa?

Considero como indolor, na verdade senti dores de cabeça nos dias pós cirurgia, mas talvez pela mudança do grau, mas nada que fosse fora do comum. Tive uma noite muitro tranquila no dia seguinte tudo já tinha voltado ao normal, sem problema algum não parecia que estivesse com um anel dentro do olho.

Quanto tempo é a recuperação?

Em meu caso retornei com as atividades normais em 3 dias, sem o menor problema, claro que com cuidados especiais nos 30 dias pós cirurgicos. o médico passará todas as especificações necessarias para o pós.

Como é a vida vida pós implante?

Minha vida não mudou muito, quero dizer que não tive problemas por causa da cirurgia, sinto um incomodo maior quando fico por tempo prolongado em ambiente com ar condicionado. viajar com o carro com a janela aberta (nunca mais), continuo dirigindo e usando o computador como antes, melhorou pra ler em livros, eu tinha uma certa dificuldade por ter que deixar tudo muito próximo ao olho.

Valeu a pena?

Com toda certeza, faria de novo, espero não precisar no outro olho, mas caso venha ser necessario não vejo problema algum. Fiquei feliz por ter voltado a enchergar algumas coisas de novo. detalhes já esquecidos do mundo.

Anel de Ferrara – Tudo que precisa saber

HISTÓRICO

Os primeiros trabalhos sobre implantes intracorneanos foram realizados por Barraquer em 1949 (2). Desde então vários autores se dedicaram ao estudo  da correção refrativa através desta técnica, sem contudo obter sucesso (4,5,7,10,11). A primeira citação de implantes de anel corneano, na literatura, é referida no livro publicado por Barraquer em 1989 (1).

Em 1986, foi iniciada uma pesquisa de implantes intracorneanos de Ferrara visando a correção de miopias moderadas e elevadas, de vez que as técnicas então existentes permitiam apenas a correção de pequenas miopias até 6,00 dioptrias. Nesta época não se dispunha de torno computadorizado e portanto as dimensões da órtese eram imprecisas.

Em 1991, já havia sido decidido as dimensões e forma da órtese e, a essa época, já se contava com o torno computadorizado, e portanto, com órteses  de dimensões definidas e capazes de permitir a definição de um nomograma.

Os resultados deste estudo foram apresentados em 1994 em um Congresso Internacional em São Paulo(17). Como o resultado obtido por esta técnica  não se mostrou satisfatório, desenvolvemos a técnica que hoje utilizamos, que  é a técnica de tunelização.

Em 1995 foi implantado o primeiro anel em paciente com transplante de  córnea e ceratotomia radial. Esta paciente foi referida ao Serviço de córnea do Hospital São Geraldo da UFMG para retransplante. Decidimos, com a anuência por escrito da paciente, testar o anel antes de realizarmos o transplante.  

O resultado foi satisfatório, com correção da ametropia e perfeita tolerância  da órtese pela córnea. Após 6 anos de follow-up a paciente se apresenta  bem com a córnea compensada e a refração estável. A excelente tolerância da córnea transplantada ao implante nos deu a segurança necessária para se aplicar a técnica em córneas com ceratocone e assim, a partir de 1996 foi decidido implantar os anéis nos pacientes intolerantes a lentes de contato e com indicação para transplante de  córnea.

Nesta época não existia na literatura qualquer relato do uso de anéis corneanos em córneas patológicas. Estes só vieram a ser referidos por Colin  em 1998, em publicação da Ocular Surgery News. Neste relato ele apresenta seus primeiros resultados utilizando anéis de grande diâmetro em paciente com ceratocone inicial.

A partir de 1999 foi iniciada a utilização do anel para correção de ectasias  de córnea pós excimer laser. A morfologia do Anel de Ferrara foi sendo modificada ao longo dos anos com os objetivos de melhora dos resultados e facilitação da técnica cirúrgica. A órtese atual é formada por segmentos  de 160º de arco, podendo ser utilizada isoladamente ou aos pares,

 

Figura 13: Um par de segmentos de Anel de Ferrara (modelo
Atual) em córnea humana.

CARACTERÍSTICAS DO ANEL DE FERRARA

O anel de Ferrara apresenta as seguintes características:

. Diâmetro apical de 5.0 mm

. Seção transversal triangular

. Base 600 micra

. Espessuras variáveis

. Cada segmento tem comprimento de 160 graus de arco

. Um orifício em cada extremidade

. Confeccionado em Acrílico CQ

 

MECANISMO DE AÇÃO

Anel corneano obedece aos postulados de Barraquer e Blavatskaya, segundo os quais a adição de “tecido” na periferia da córnea resulta em aplanamento desta e o diâmetro do anel é inversamente proporcional a esta intensidade de aplanação. Assim quanto mais “tecido” é adicionado (espessura do anel) equanto menor for o diâmetro, maior será a correção miópica obtida.

INDICAÇÕES

O implante de anel corneano está indicado nas seguintes situações:

1. Ceratocone em evolução ou intolerância ao uso de lentes de contato;

2. Ectasia corneana pós excimer laser;

3. Degeneração marginal pelúcida;

4. Irregularidades corneanas pós transplante de córnea;

5. Irregularidades corneanas pós ceratotomia radial;

6. Irregularidades corneanas pós trauma;

7. Miopia e/ou astigmatismo em córneas finas.

 

O pequeno diâmetro do anel permite que ele faça correções importantes tanto refracionais quanto na redução de irregularidades de superfície como as que se fazem presentes no ceratocone, ectasias corneanas pós excimer laser,transplante de córnea e outros. Com respeito ao ceratocone há que seconsiderar o seu grau evolutivo, sua estabilidade e a tolerância ou não aouso de lentes de contato.

 Selecionamos preferencialmente os indivíduos jovens com cone em evolução e intolerantes a lentes de contato. A indicação do uso do Anel de Ferrara com finalidade refrativa é cada vezmenos utilizada frente à baixa previsibilidade do resultado obtido. Em casos de altas ametropias, sugere-se que a correção refracional seja feita, após o implante dos segmentos, com óculos, lentes de contato ou associação com outra técnica cirúrgica, como implante de lentes fácicas, extração docristalino transparente com LIO ou até mesmo excimer laser.

As lentes de contato a serem utilizadas no pós-operatório podem ser gelatinosas, em casos de miopia sem astigmatismo importante, ou rígidas,quando o astigmatismo residual for considerável. A utilização de “Piggy Back” (colocação de uma lente gelatinosa sob a lente rígida) pode ser utilizada para facilitar a adaptação nas primeiras semanas ou meses. É importante tranqüilizar o paciente que esta técnica é, em geral, temporária proporcionando maior conforto e qualidade de vida. Após este período inicial, o próprio paciente poderá experimentar utilizar a lente rígida sem a proteção da gelatinosa. Em caso de desconforto importante, ele reiniciará  o “Piggy Back” que será mantido por mais algumas semanas.

As lentes rígidas prescritas após o implante do Anel são, geralmente, de diâmetro maior que as usualmente utilizadas em ceratocone (diâmetro 8,5 ou maiores) e mais planas, com um leve “toque central”. Atualmente, lentes gelatinosas especiais vêm sendo lançadas no mercado com bons resultados em ceratocones antes ou após o implante do Anel de Ferrara. São lentes tóricas ou de espessuras altas para a correção das irregularidades da superfície corneana.

É importante salientar que, no pós-operatório, a facilidade de adaptação com  lentes de contato, bem como a acuidade visual corrigida com óculos, de maneira semelhante aos bons vinhos, tendem a ficar melhores a cada ano.

CIRURGIA

Assistir a um vídeo que mostra como é feita a introdução do Anel de Ferrara  pode dar a falsa impressão de que se trata de uma técnica extremamente fácil de ser executada, mas não é verdade. A necessidade de precisão de movimentos, habilidade com as duas mãos, centralização perfeita do Anel, profundidade adequada do túnel e posicionamento correto dos segmentos, unidos ao fato de estarmos trabalhando com instrumentais e órteses de tamanhos bastante reduzidos, fazem com que os cirurgiões iniciantes tenham muita dificuldade nos primeiros olhos. Assim, torna-se indispensável a realização de um treinamento intensivo em cirurgia experimental e, de preferência, acompanhamento de um cirurgião mais experiente nos primeiros casos. Acredita-se que um oftalmologista bem treinado no “Wet Lab”, para vencer a “Curva de Aprendizado”, necessita realizar ao menos 10 cirurgias.

COMENTÁRIOS

Observando o pós operatório de nossos pacientes, podemos observar que a curva de recuperação visual e estabilização refracional demora em média três  meses. O comportamento da recuperação da visão obedece a um padrão. Em geral a melhora da visão é rápida e, no dia seguinte, o paciente já a percebe. Entretanto, regride nas primeiras semanas e ao fim do primeiro mês o paciente refere que, no pós operatório imediato, enxergava melhor. A mesma flutuação se observa com relação à refração e à ceratometria. A partir do primeiro mês, a visão começa a melhorar, a flutuação refracional e ceratométrica diminuem e, ao terceiro mês, se estabiliza. Aí então, podemos  corrigir a ametropia residual, se necessário, lançando mão de óculos, lentes  de contato rígidas ou gelatinosas ou até implantando lentes intra-oculares para correção da alta miopia .

Podemos observar que aqueles pacientes com cones centrais têm um prazo de recuperação maior, ou seja, o aplanamento central é mais lento ao passo que  aqueles cones descentrados se recuperam mais rapidamente. Acreditamos que isso se deva ao deslocamento do ápice da córnea para sua posição fisiológica  à frente da pupila. Em alguns casos, podemos observar que, após o implante do anel, houve aumento da miopia e do valor ceratométrico que se deve exatamente a este fenômeno.

É interessante referir que os sintomas de fotofobia, desconforto visual,  dor ocular e prurido, diminuem ou desaparecem após a cirurgia.  A maioria de nossos pacientes é alérgica e por isso se faz mister adverti-los com veemência, para que não cocem os olhos. Tal ato pode, além de deslocar os segmentos, encorajar a progressão da doença, além de provocar  alterações de regularidade da superfície da córnea e consequente baixa da acuidade visual. Em alguns casos é necessário a utilização de conchas protetoras durante a noite para evitar o ato compulsivo e inconsciente de coçar.

O grau de satisfação é elevado. Podemos observar que o temor da cegueira e  a ameaça de um possível transplante, pela contínua evolução da doença, são  uma constante nestes pacientes. A possibilidade de adiar estas eventualidades gera intenso alívio. Os nossos casos mostram que, além da correção da deformidade, há paralisação da evolução do cone. Ao lado desta paralisação, podemos observar também uma diminuição das opacidades corneanas, juntamente  com os sintomas acima referidos. O exame de microscopia especular mostra  um endotélio normal com densidade celular fisiológica.

A cirurgia é muito simples embora não seja fácil. Como qualquer procedimento deve ser bem executado para que o resultado seja consistente. A incidência de complicações é muito baixa, em torno de 3 a 5%, compatível com os índices  exigidos para procedimentos refrativos. Contudo é necessário enfatizar que o implante de anel corneano é, antes de tudo, uma técnica ortopédica, que visa e promove a correção de uma deformidade estrutural e, concomitantemente, a correção refracional.

A análise dos resultados mostra que a recuperação visual sem correção é bastante satisfatória nos graus I e II, decrescendo nos estágios mais avançados, o que é natural em vista das profundas alterações estruturais encontradas a partir do grau III. Os cones tipo “nipple” tem uma recuperação  mais demorada que os do tipo “sag”. A correção óptica convencional propicia  elevado índice de visão igual ou melhor que 20/60, e o aplanamento resultante do implante permite a utilização de lentes gelatinosas tóricas  ou esféricas, bem como a readaptação de lentes rígidas com melhora da tolerância.

Em outros casos podemos associar o implante do anel e lente intraocular de Artisan para correção da alta miopia que em alguns casos se associa ao ceratocone.

Nos casos em que foi necessário realizar o transplante, o anel não só não interferiu, como proporcionou uma melhor centragem da trepanação. Podemos observar também que, após a cirurgia, há uma diminuição da sensibilidade da córnea possibilitando um maior conforto na adaptação de lentes de contato, o que era impossível antes da cirurgia.

A incidência de complicações é maior nos estágios mais avançados, porque a córnea é mais fina e a pressão gerada dentro do estroma após a implantação do anel pode deslocar os segmentos em direção às incisões propiciando a extrusão dos mesmos.

CONCLUSÃO

Podemos afirmar, diante dos resultados alcançados, que esta abordagem terapêutica apresenta vantagens como:

 

1. baixa morbidade, porque preserva a estrutura da córnea, e apresenta baixo índice de complicações, possibilitando que 95% dos pacientes operados se reintegrem rapidamente em seus afazeres habituais;

2. é reversível, porque permite que a córnea volte às suas dimensões pré operatórias quando se remove os segmentos, nos casos em que tivemos complicação foi possível revertê-las;

3. é reajustável através da troca do(s) segmentos. Em alguns casos, pudemos corrigir a hiper correção removendo apenas um dos segmentos;

4. não há rejeição porque o acrílico utilizado para a confecção do anel é inerte,

5. elevado índice de satisfação dos pacientes;

6. é uma técnica ortopédica, que corrige a deformidade da córnea e restaura a curvatura fisiológica, compatível com correção óptica convencional ou lentes de contato;

7. estabiliza ou retarda a progressão do cone;

8. não há idade mínima para se operar e assim é possível reduzir as filas de transplantes em bancos de olhos (30% dos transplantes em bancos de olhos são devidos ao ceratocone);

9. pode vir associado a outros procedimentos como adaptação de lentes de contato e lentes intra oculares;

10. não interfere nem prejudica o transplante de córnea. Por tudo aqui exposto, acreditamos que a técnica de implante de anel corneano intraestromal deve ser adotado formalmente, como uma opção a mais,  para tratamento de enfermidades corneanas que só tinham antes, como única e última alternativa, o transplante de córnea.

 

Dr. Frederico Bicalho

Oftalmologista

FONTE: http://www.wellingtonsantos.com/academico_9.htm

Anel de Ferrara – Relato

Em mais uma das minhas pesquisas resolvi buscar informações sobre o Anel de Ferrara, e nada melhor que o site oficial do mesmo, link: http://www.ferrararing.com.br/ferrararing/htms/index.asp . gostaria de deixar aqui um relato do meu caso em especifico.

Como toda cirurgia essa não seria diferente, foi uma decisão difícil, dúvidas pairavam minha cabeça, por mais que eu tenha acompanhado todo o progresso e soubesse que minha chance de ficar cego praticamente não existia, como em todos os casos de ceratocone, eu fiquei preocupado com essa hipótese, passei por alguns oftalmologistas, infelizmente não me senti bem com a maioria deles, inseguro sobre o conhecimento que eles tinham sobre essa patologia, um desses oftalmologistas me indicou o Dr. Paulo Ferrara, busquei informações sobre o que ele tinha vinha fazendo, resolvi marcar uma consulta, foi um pouco assustador passar 3 anos sem usar óculos por falta de capacidade de alguns médicos de conseguirem mensurar a deficiência que eu tinha, o Dr. Paulo Ferrara em 15 minutos conseguiu resolver o meu problema, o que proporcionou muita confiança nesse profissional, sem dúvida um PROFISSIONAL de verdade, o tempo foi passando os óculos já não vinham me ajudando tanto quanto antes, passei por mais alguns oftalmologistas, tentei  um na minha cidade, sem sucesso, voltei então a uma consulta com o Dr. Paulo Ferrara, onde ele me indicou a cirurgia, com eu disse antes, é um pouco assustador uma notícia dessa, como assim cortar meu olho e implantar um anel dentro dele? Isso não poderia ser nada bom, mas a confiança já não era mais problema, ele me explicou todo o procedimento, eu fiquei sem acreditar que era algo “simples”, mas foi, muito, mas muito melhor do que eu em meu momento de maior otimismo poderia imaginar, voltei pra casa 3 dias depois da cirurgia me sentindo muito bem, usando apenas uma proteção no olho operado no momento em que eu estivesse dormindo, e é claro os colírios que por sinal todos indolor. Só uma observação meu olho não operado dói mais que o olho com o anel, não minto que hoje penso em fazer no outro olho. Tenho minhas duvidas sobre a necessidade no olho, mas com certeza quando for dito que é necessário não hesitarei. Aconselho a todos que se necessário a fazer essa cirurgia, sem medo, acredite no seu médico, confie no profissional, claro no PROFISSIONAL, e pare de procurar médicos “açougueiros”   não tão bons.

Estou pedindo para algumas pessoas que escrevam sobre esse momento de decisão da cirurgia, que com certeza é um período muito mais longo que esse ai que eu descrevi, já são quase 6 anos convivendo com esse problema, um dia talvez quem sabe, sairá algo a respeito “historia do ceratocone” ou “ceratocone a saga”, então vou ficando por aqui. Qualquer coisa já sabe e-mail pessoal ou blogoculos@gmail.com beleza? E não se esqueçam de olhar o site oficial.

Essa imagem logo abaixo é dos meus olhos esquerdo(foto) é sem o anel e o direito(foto) é com o anel ou seja, meu olho esquerdo é o com o anel e o direito sem o anel.

Meus olhos

Só um detalhe, é a única foto que deu o reflexo do anel.

Estudo das modificações oculares induzidas pelo implante

Pessoal, achei mais um artigo a respeito do ceratocone, muito interessante por sinal dizendo sobre os resultados dos implantados com o anel de ferrara. Vale a pena da uma lida ok?

O link é: http://www.scielo.br/pdf/abo/v66n4/17375.pdf (Obs: Dependendo da sua internet, poderá demorar alguns segundos a mais para abrir)

A comunicação diagnóstica de ceratocone e sua influência na representação social que o paciente constrói da sua doença

Galera em minhas buscas sobre o Ceratocone achei esse artigo muito interessante, gostaria que fosse lido por quem tem a patologia, demonstra claramente que é normal o que sentimos a respeito da nossa vida social, realmente acontece muito o que está escrito. Desculpa, sei que é grande então boa leitura.

Wesley Dantas… apartir daqui é o Artigo….

Arquivos Brasileiros de Oftalmologia

Print version ISSN 0004-2749

Arq. Bras. Oftalmol. vol.70 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2007

doi: 10.1590/S0004-27492007000500012 

ARTIGO ORIGINAL

A comunicação diagnóstica de ceratocone e sua influência na representação social que o paciente constrói da sua doença

The diagnostic communication of keratoconus and its influence on the social representation that the patient has of his/her illness

Vera Lúcia Rodrigues AlvesI; Milton Ruiz AlvesII; Silvia Tatiane Mauer LaneIII

IDoutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC – São Paulo (SP) – Brasil
IILivre Docente, Professor da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP) – Brasil
IIIDoutora em Psicologia Social pela PUC – São Paulo (SP) – Brasil

Endereço para correspondência


RESUMO 

OBJETIVOS: Analisar a influência da comunicação diagnóstica e prognóstica na consciência e afetividade do paciente portador de ceratocone e verificar possíveis mudanças na representação social que o indivíduo constrói da sua doença, de si mesmo e de sua vida em face deste diagnóstico.
MÉTODOS: A amostra foi constituída por 44 indivíduos, de ambos os sexos, com idades entre 13 e 53 anos, com o diagnóstico de ceratocone e que concordaram em participar do estudo, que foi realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e no Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, Joinville, Santa Catarina. Foi utilizado como instrumento para coleta de dados questionário desenvolvido pela própria pesquisadora para avaliação das informações recebidas pelos pacientes no diagnóstico de ceratocone. Os dados obtidos foram analisados quantitativa e qualitativamente. Esta última análise foi efetuada pela análise descritiva e demonstrativa do discurso, baseada principalmente na Teoria Sócio-Histórica.
RESULTADOS: Os dados obtidos evidenciaram, de maneira geral, que os pacientes não consideram satisfatória a comunicação feita pelos médicos. Isto tem implicação com a forma e o conteúdo da comunicação, a qual é relacionada com múltiplas variáveis, entre elas: a formação do profissional, a forma como está estruturada a operacionalização dos atendimentos nas instituições, a conscientização, por parte dos profissionais, da importância da linguagem e das representações sociais ligadas à condição de doente, deficiente, às condições socioeconômicas e culturais do médico e do paciente, etc.
CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo demonstram que a forma como ocorrem estes processos de comunicação influem nas representações sociais que o indivíduo tem da doença e de si mesmo.

Descritores:Ceratocone/diagnóstico; Ceratocone/psicologia; Erros de refração/psicologia; Relações médico-paciente; Pacientes/psicologia; Comunicação


ABSTRACT 

PURPOSE: To analyze the influence of diagnostic and prognostic communication and the awareness and affectivity of the patient with keratoconus and to verify the possible modifications in the social representation that the individual has of the disease, of himself and of his life.
METHODS: The sample was consisted of 44 subjects, both genders, aged 13 to 53 years, with diagnosis of keratoconus who agreed to participate in this study. The study was carried out at the “Hospital das Clínicas”, University of São Paulo Medical School, and at the “Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem” (Eye Hospital), in Joinville, state of Santa Catarina. A questionnaire used to assess the information received by patients with keratoconus was specially developed for this study. A quantitative and qualitative analysis of the collected data was performed through descriptive and demonstrative analyses of speech, based mainly on Social-Historical Theory.
RESULTS: In general, the patients did not consider the information provided by the doctors as being satisfactory. This fact may be related to how the information is transmitted and its contents. This is influenced by several variables, such as professional training, structural characteristics of the provided care, awareness by the doctor of the importance of language and social representation related to the condition of the patient, the socioeconomic and cultural level of the physician and the patient, etc.
CONCLUSION: This study indicates that the way the information is transmitted influences the social representation that the individual has of the illness and of himself.

Keywords: Keratoconus/diagnosis; Keratoconus/psychology; Refractive errors/psychology; Physician-patient relations; Patients/psychology; Comunication


  

INTRODUÇÃO

A comunicação do diagnóstico e prognóstico das doenças interfere na dinâmica emocional dos pacientes de maneira geral. E como não é dado o devido cuidado a essa comunicação, gera distorções, mudanças e interferências na determinação social do próprio diagnóstico e na representação social que, o paciente tem de si mesmo, e do meio ao seu redor. Visto que a linguagem é constituinte e determinante da consciência, a comunicação pode interferir diretamente na consciência do indivíduo e nas suas emoções, determinando suas motivações e conseqüentes ações. Daí, a importância de se pesquisar como esse processo de comunicação acontece e como poderiam ser amenizados seus efeitos “negativos” na informação diagnóstica, dentro de um âmbito social maior(1).

A aparente participação de diversos fatores no desenvolvimento do ceratocone contribui para as controvérsias, até hoje existentes, quanto a sua etiologia, hereditariedade, patogênese e bioquímica. Dos pacientes que apresentam ceratocone, 85 a 90% vão ter a afecção estabilizada entre 30 e 35 anos de idade. Na 1ª fase o ceratocone induz à miopia e astigmatismo, sendo corrigido com óculos, em uma 2ª fase com lentes de contato e evoluindo para 3ª fase pode ser necessário transplante de córnea, ou seja, 5% a 15% poderão em algum momento necessitar de transplante de córnea para obter acuidade visual funcional(2).

Cada vez mais tem se dado importância à comunicação diagnóstica das doenças, suas implicações sociais e qualidade de vida, entretanto, estudos especificamente para ceratocone são poucos(3-5).

O ceratocone é causa de indicação de cerca de 50% dos transplantes de córnea realizadas no país e no mundo(6). Rotineiramente quando o individuo tem este diagnóstico ele é estigmatizado como uma pessoa que deveria se matricular em “Banco de Olhos” para aguardar na fila a doação de uma córnea, o que ocorre muitas vezes pela desinformação médica sobre a evolução da doença. Esse futuro sombrio projetado sobre o paciente interfere no seu desenvolvimento e projeto de vida, em todas as instâncias quer seja física, psíquica, familiar e social.

Nesse aspecto o sentimento de medo como uma experiência social adquirida, mediante a comunicação, torna-se um inibidor e paralisador da consciência(7). Visto que, em um primeiro momento, o medo aparece como uma forte emoção, mesmo que não esteja vinculado a uma ação imediata, e posteriormente, se canaliza em um afeto que passa a nortear as representações destes pacientes. O medo enquanto conhecimento prévio adquirido pela comunicação, transmitida por alguém que detém “poder”, no caso o médico, tem uma força muito grande, porque este medo não é gerado por uma circunstância de risco iminente, em que a pessoa pode agir prontamente, mas ele é projetado no futuro. Melhor dizendo, é o medo gerado pela possibilidade de ficar deficiente podendo ou não ocorrer de acordo com as condições situacionais ao longo do tempo e são impossíveis cognitivamente de identificá-las no momento, portanto, desconhecido enquanto experiência concreta vivenciada, entretanto, com significados culturalmente conhecidos.

O afeto gerado por determinado conhecimento/informação dentro de um contexto médico-hospitalar pode levar a experiências determinantes e traumáticas para o indivíduo, levando a discussão e análise do paradigma médico no que se refere à postura, conhecimento e racionalidade médica. Esta possibilidade de abstração, de generalização, a partir da linguagem, da comunicação, ocorre na relação inter e intra-psíquica entre médico e paciente, em que a “consciência” é vista na relação do homem com a realidade e história social, vinculada ao trabalho, à linguagem e ao outro. Para Vygotsky(8), a consciência está ligada ao desenvolvimento das palavras, as quais estão em constante processo de mudança, diferenciando o conceito de significado e sentido. Então se faz necessário refletir sobre as condições básicas de saúde, sobre os aspectos psicológicos, sociais e culturais e, na possibilidade de promoção de saúde e de transformação adaptativa da realidade, via comunicação diagnóstica e prognóstica da doença. Estas considerações ratificam a nossa percepção da necessidade de pesquisar subsídios para auxiliar essa relação e/ou pelo menos evidenciar na nossa sociedade estas dificuldades e sua relevância na saúde física, psíquica e social do paciente.

Esta pesquisa teve por objetivo analisar a influência da comunicação do diagnóstico e do prognóstico na consciência e afetividade do paciente portador de ceratocone; assim como verificar as possíveis mudanças na representação social que o indivíduo constrói de sua doença, de si mesmo e de sua vida em face deste diagnóstico.

MÉTODOS

Após a aprovação pela Comissão de Ética para Análise de Pesquisa – CAPPesq do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo realizou-se um estudo do tipo descritivo, exploratório, correlacional e explicativo com abordagem quantitativo-qualitativa. A amostra do estudo, do tipo aleatória, foi constituída por 44 indivíduos de ambos os sexos, com idades entre 13 e 53 anos, com diagnóstico de ceratocone, atendidos na seção de córnea e doenças externas no Hospital das Clínicas da FMUSP (São Paulo) e no setor de lentes de contato do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem (Joinville, SC) e que concordaram em participar do estudo. Foi adotado como instrumentos: entrevistas com pacientes e um questionário confeccionado para avaliação das informações recebidas pelos pacientes no diagnóstico de ceratocone, desenvolvido pela própria pesquisadora, contendo 12 questões para identificar variáveis relacionadas ao paciente (idade, sexo, escolaridade e profissão), ligadas à doença (motivo da procura do médico, doença que acreditava ter, como soube, idade que tinha e tempo de diagnóstico), ligadas ao diagnóstico (explicação incluiu menção à córnea, hereditariedade, cronicidade, indicação de lente, indicação de cirurgia); ligadas ao sentimento (sentimento, classificação do sentimento, influência hoje, influência no futuro e receio de limitação no futuro); ligadas à comunicação (procura de outro médico, informação que gostaria de receber e qualidade da comunicação recebida) (Quadro 1).

Os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente. Esta última foi efetuada pela análise descritiva e interpretativa do discurso segundo a Teoria Sócio-Histórica associada a um estudo de caso. A análise quantitativa do tipo descritiva foi feita sobre as variáveis respostas e as variáveis do estudo. A análise quantitativa do tipo inferencial constituiu basicamente das análises de associação e de correlação. Para a realização adotaram-se os seguintes procedimentos estatísticos: intervalos de confiança de 95% para estimar porcentagens reais de alguns eventos de interesse do estudo; coeficiente de correlação linear de Pearson para avaliar a existência de dependência linear entre as variáveis de nível intervalar, e a correlação bisserial no caso de uma variável de nível intervalar e uma nominal dicotômica; e o teste de Qui-quadrado para comparação entre porcentagens de interesse em dois grupos independentes. Devido ao pequeno número de observações, as variáveis nominais foram dicotomizadas e sempre que observamos menos de 20% das freqüências esperadas inferiores a 5, a comparação foi feita por meio do teste exato de Fisher. Toda diferença, correlação ou associação com o valor de p inferior a 0,05 foi considerada estatisticamente significante.

RESULTADOS

A caracterização dos pacientes está na tabela 1.

O exame da tabela 1 sugere para a variável sexo, predominância de pacientes do sexo feminino com 23 (52,27%) citações, todavia, o teste de Qui-quadrado nos oferece evidência de que tal predominância não é estatisticamente significativa (p=0,878). Sugere para a variável idade, predomínio de pacientes com idade entre 19 e 24 anos com 14 (31,82%) citações, valor médio de 25,98 (desvio-padrão de 8,81) e variação de 13 a 53 anos. A aplicação do teste de Qui-quadrado ofereceu evidência estatística da não homogeneidade da distribuição das idades (p<0,0001). Além disso, mais de 50% dos pacientes tinham idade inferior a 24 anos. Sugere para a variável escolaridade, predominância do nível médio completo com 19 (50,0%) e para a variável tipo de escola, predominância de escola pública com 29 (87,88%) citações. A aplicação do teste de Qui-quadrado oferece evidência da não homogeneidade da distribuição da escolaridade (p<0,001) e da distribuição da escola pública (p<0,001).

A distribuição das variáveis ligadas à doença está na tabela 2.

Observou-se que os pacientes em sua maioria (41 pacientes) tinham conhecimento do nome da doença.

As classificações das explicações e respectivas composições estão na tabela 3.

A tabela 3 sugere predominância de explicações insatisfatórias, com 37 (84,09%) citações; de explicações que omitiram menção à alteração na córnea, com 26 (59,09%) citações; de explicações que omitiram menção ao caráter hereditário da afecção, com 38 (86,36%) citações; de explicações que omitiram menção ao caráter crônico da doença, com 36 (81,82%) citações, de explicações que omitiram menção ao uso de lente de contato, com 29 (65,91%) e que omitiram menção a recomendação de transplante, com 27 (61,36%) citações. No campo inferencial estima-se, com 95% de confiança, que a real porcentagem média de explicações classificadas como satisfatória oscila de 4,66% a 27,16%; de explicações que incluem menção à alteração na córnea oscila de 25,79% a 56,03%; de explicações que incluem menção ao caráter hereditário de 3,09% a 24,19%; de explicações que incluem menção ao uso de lente de 19,51% a 48,67% e de explicações que incluem menção ao transplante de 23,67% a 53,61%.

A caracterização dos sentimentos envolvidos está na tabela 4.

No que se refere às influências, estima-se, com 95% de confiança, que a real porcentagem de pacientes que alegam que a doença influi hoje oscila de 63,59% a 89,89% e que alegam que a afecção irá influir no futuro oscila de 34,63% a 65,37%. O exame da posição relativa entre as estimativas nos oferece evidência estatística de que a porcentagem de alegações de que a doença irá afetar o futuro é significativamente inferior ao das alegações de que a enfermidade afeta o presente.

A caracterização da comunicação está na tabela 5.

No campo inferencial, estima-se, com 95% de confiança, que a real porcentagem de pacientes que procuram uma segunda opinião oscila de 54,47% a 83,63%.

Na tabela 6 estão os valores dos coeficientes de correlação entre as variáveis quantitativas e qualitativas dicotômicas de interesse.

O exame dos dados contidos na tabela 6 nos oferece evidência estatística da presença de correlação positiva entre idade atual e idade que tinha; idade atual e tempo de diagnóstico; tempo de diagnóstico e sentimento; escore para a explicação e qualidade da explicação; escore para a explicação e informe da alteração da córnea; escore para a explicação e informe do caráter hereditário; escore para a explicação e informe da cronicidade; escore para a explicação e indicação de lente; escore para a explicação e indicação de transplante e escore para a explicação e qualidade da comunicação. Oferece evidência estatística da presença de correlação negativa entre idade e sexo; idade e motivo da procura; idade e indicação de transplante e tempo de diagnóstico e idade que tinha. Operacionalmente, os resultados sugerem que pacientes com maiores tempos de diagnóstico tendem a apresentar sentimentos esperados; pacientes altos escores para a qualidade da explicação tendem a estar associados a pacientes que receberam informação quanto à alteração na córnea, hereditariedade, cronicidade da afecção e indicação de lente e transplante. Observa-se também que pacientes mais idosos tendem a ter procurado o médico por apresentar sintomas e ter recebido indicação de transplante.

DISCUSSÃO

Os dados apresentados nesta análise, junto aos 44 pacientes de ceratocone, demonstram que sob a ótica deles, as informações recebidas dos profissional-médicos são consideradas insatisfatórias e não atendem suas necessidades globais.

Neste estudo não houve prevalência de gênero, mas sim predomínio do sexo feminino e de adolescentes e adultos jovens, a maioria provenientes de escolas públicas, todos com algum grau de escolaridade, predominando o nível médio (Tabela 1). Observou-se que os pacientes em sua maioria (41 pacientes) tinham conhecimento do nome da afecção (Tabela 2). No entanto, a explicação e conseqüente conhecimento, acerca do que é a doença, dos aspectos clínicos e tratamento foram considerados insatisfatórios por 37 pacientes (Tabela 3). A vivência de sentimentos, caracterizados como contraditórios, depressivos e indiferentes, em face de um diagnóstico desta natureza foi referida por 36 pacientes (Tabela 4).

Estes resultados apontam para as representações sociais coletivas da condição de doente, de deficiente na nossa cultura e da importância de se ter um cuidado maior, quando se está no papel de emissor/transmissor de informações tão carregadas de conteúdo emocional e ideológico que é a vivência da condição de doente e da confrontação com os preconceitos ligados a esta condição em termos pessoais e sociais. Corroborando para a necessidade de maior instrução a ser fornecida ao paciente, sabemos que o medo relativo ao risco pode ficar sensivelmente ampliado pelo desconhecimento dos limites de risco ou pela ignorância dos métodos de prevenção eficazes(9), e minimizados em face de uma melhor adequação ao tratamento(1,10).

O fato da comunicação diagnóstica não ter sido vista como satisfatória para um número expressivo de pacientes (Tabela 5) pode estar relacionada a fatores como não conhecimento por parte do médico, a quem se dá o diagnóstico; a forma e o conteúdo da linguagem utilizada; a formação profissional e a identificação com os pressupostos éticos da relação médico-paciente e instituição. O nível de informação que os pacientes avaliados referem ter aponta, salvo algumas exceções, para um comportamento “técnico e/ou especializado” por parte dos médicos, pois os pacientes conhecem o nome de sua doença e sua gravidade em última instância, como por exemplo: não poder dirigir, estudar, etc, e na possibilidade de transplante de córnea como forma de evitar a cegueira, embora o ficar cego, não seja dito claramente, mas sim inferido pela maioria dos pacientes. Porém, o desconhecimento da doença em si, quanto a sua etiologia, hereditariedade, aspectos clínicos, formas de tratamento e a necessidade e o desejo de ter maiores informações, assim como a referência de “repercussão negativa” em suas vidas, apontam para a precariedade desses informes e explicações (Tabela 6).

Para Vygotsky (1934)*, citado por van der Veer e Valsiner(11), “o pensamento não é apenas externamente mediado por signos, mas também internamente por significados. A questão é que a comunicação direta de mentes é impossível, não só fisicamente, mas também psicologicamente. Ela só pode ser conseguida por meios indiretos, mediados. Esta estrada equivale à mediação interna do pensamento primário por significados, depois por palavras. Portanto, o pensamento nunca pode ser igual ao significado direto das palavras. O significado media o pensamento em seu caminho para a expressão verbal, ou seja, o caminho do pensamento para a palavra é um caminho indireto, inteiramente mediado”. Destaca-se a necessidade do médico se auto-perceber e ter consciência crítica de sua atuação profissional, bem como de se preparar para receber o outro, foco e receptor de sua atuação clínica e conhecimento. Pois a não percepção ou falta de cuidado por parte dos profissionais da importância e significado desta comunicação, quer na forma de linguagem utilizada e da influência que esta pode gerar no outro (paciente), nos aspectos cognitivos, afetivos emocionais e na própria consciência de si, assim como nos seus relacionamentos sociais, será decisivo para se estabelecer uma boa comunicação e/ou encontro respeitoso e ético.

Através do próprio discurso constante nas respostas relativas às questões 6 a 12 (Quadro 1), verificamos que a influência do diagnóstico pode ocasionar limitações de práxis funcionais, cotidianas (atividades de auto-cuidado, de trabalho e de lazer) e nas relações com o outro, que estão diretamente ligadas aos sentimentos e emoções decorrentes da comunicação da doença. Podemos constatar que a projeção de limitações no futuro (22 pacientes) influi na conscientização que estes sujeitos tem da doença, do tratamento, do profissional que os atende e da instituição hospitalar.

Pensar a relação médico-paciente como um diálogo que permite entre outras coisas a conscientização e a melhora de qualidade de vida é quase inerente nesta interação. Entretanto, podemos verificar que dependendo de como ela se estabelece, pode gerar efeitos adversos. O que nos impele a buscar na formação médica, enquanto especialista e formadores de opiniões, a rever conceitos, visando no desempenhar seu papel profissional, ampliar seus objetivos em relação ao outro/paciente e colaborar para o processo de desenvolvimento bio-psico-social, pela relevância de sua atuação junto à sociedade. Evidenciando-se que mesmo em face da deficiência, é possível colocá-la de tal maneira que estimule a necessidade de compensação de forma integrada e produtiva. Esta responsabilidade recai sobre o profissional, face à sua função de diagnosticar, orientar e coordenar o tratamento com vistas à superação e enfrentamento das dificuldades dentro de uma inserção social maior.

CONCLUSÃO

Neste estudo verifica-se a preocupação com a inserção social, relacionada com o diagnóstico de ceratocone e 76% dos pacientes sentem que ele influiu em sua vida diária (no auto-cuidado, escola, trabalho e lazer), porém, com percepções diferentes de quanto isto afeta a vida como um todo. O que nos parece ser um denominador comum é a comunicação, que amplia as possibilidades de enfrentamento deste diagnóstico, assim como pode influenciar na representação social de maneira mais assertiva e menos iatrogênica, propiciando uma melhor qualidade de vida aos seus portadores e estimulando sua autonomia, auto-estima e, sua inclusão social.

REFERÊNCIAS

1. Alves VLR. O desconhecimento pelos pais do diagnóstico de deficiência física em crianças portadoras de retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, sua influência no programa de reabilitação [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 1997.         [ Links ]

2. Bechara SJ, José NK. Ceratocone. In: Belfort Júnior R, José NK. Córnea: clínica crúrgica. São Paulo: Roca; 1997. p.359-66.         [ Links ]

3. Lima CA. Proposição e teste de um questionário de qualidade de vida em pacientes com ceratocone [tese]. Campinas: Faculdade de Ciências Medicas da Universidade Estadual de Campinas; 2000.         [ Links ]

4. Alves VLR. A comunicação diagnóstica de ceratocone e a sua influência na representação social que o paciente constrói da sua doença [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2003.         [ Links ]

5. Moreira LB. Aspectos psicossociais do paciente com ceratocone [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina; 2006.         [ Links ]

6. Milani JAA. Transplante de córnea: Conceitos básicos. In: Lima ALH, Nishiaki-Dantas MC, Alves MR. Doenças externas oculares e córnea. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1999. p.435-57.         [ Links ]

7. Heller A. Teoria de los sentimientos. Barcelona: Fontamara; 1985.         [ Links ]

8. Vygotsky LS. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes; 1993.         [ Links ]

9. Dejours C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 4ª ed. São Paulo: Cortez; 1995. p.66.         [ Links ]

10. Cavalcanti FS, Freitas GG, Araújo MHQ, Leite MSS, Castro BTD. Nível de informação fornecida ao paciente sobre sua doença. Rev Bras Reumatol. 1993;33(6):223-5.         [ Links ]

11. Van der Veer R, Valsiner J. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola; 1996. p.134.        [ Links ]

FONTE: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-27492007000500012&script=sci_arttext&tlng=d_0100-6916

Funcionamento do Olho Humano

Cornea

É transparente, situada na parte anterior do olho, transmite e foca a luz para dentro do olho.

Iris

Responsável pela coloração dos olhos. A íris ajuda a regular a quantidade de luz que entra para dentro do olho.

Pupila

Região central e escura da íris. O diâmetro da pupila determina a quantidade de luz que entra para dentro do olho. O tamanho da pupila varia de acordo com a quantidade de luz no ambiente.

Cristalino

Lente transparente dentro do olho, que ajuda a focalizar a luz para dentro do olho, mais especificamente na retina.

Esclera

Éa parte branca que reveste o olho.

Retina

É um tecido do sistema nervoso que está situado para parte posterior do olho. A retina percebe a luz e produz estímulos que são transmitidos através do nervo óptico até o cérebro.

Macula

É uma região pequena da retina, que contém células especiais sensíveis a luz. É responsável pela percepção de detalhes finos da visão.

Nervo Óptico

O nervo óptico conecta o olho ao cérebro. O nervo transporta os implusos formados pela retina até o cerebro, que interpreta as imagens.

Vítreo

É claro e transparente, parecido com um gelatina, que preenche o conteúdo do olho.

Os olhos humanos, assim como da maioria dos animais predadores, estão localizados na parte frontal da cabeça. Os dois olhos, trabalhando em conjunto, fornecem ao cérebro uma quantidade significativa de informações essenciais: ambos vêem um objeto mais ou menos na mesma altura, mas a partir de dois pontos diferentes, em ângulos ligeiramente distintos.

Estrutura interna do olho humano 

Essas duas imagens separadas são enviadas ao cérebro, que as junta em uma só e percebe o objeto em 3 dimensões.

Os dois olhos trabalhando em conjunto oferecem uma visão muito mais acurada do que um olho trabalhando sozinho. A perda temporária da visão em um dos olhos leva à dificuldade para avaliar a distância exata dos objetos, porém, se a perda for permanente, o cérebro pode adaptar-se após certo tempo e a visão tornar-se quase normal.

Introdução

O olho, ou globo ocular, é um dos órgãos dos sentidos mais sofisticado e desenvolvido nos seres humanos, apresentando alta sensibilidade e precisão maiores do que a da maioria dos animais. Os dois olhos humanos são protegidos pelas proeminências ósseas do crânio e pelas pálpebras. As pálpebras são formadas por um tecido músculo-fibroso, revestido externamente por pele e internamente pela conjuntiva.

Os cílios são os pêlos finos que se encontram na borda das pálpebras. Também têm função de proteção, já que impedem que pequenas partículas cheguem ao globo ocular. As sobrancelhas, acima do olho, também apresentam uma função parecida.

Os músculos oculares se situam ao redor do globo ocular. Sua contração, que pode ser controlada voluntariamente, permite ao olho rodar em qualquer direção e aumentar, assim, o campo visual em torno de 180 graus.

Estruturas externas

Estrutura externa do Olho Humano 

Córnea

A córnea é parte da camada externa do olho e equivale ao vidro de um relógio;

Apresenta as seguintes funções:

– Transmissão e refração da luz. Funciona como uma lente que, associada ao cristalino, compõe o sistema óptico responsável por focalizar as imagens na retina; – Proteção da parte anterior do globo ocular.

Conjuntiva

A conjuntiva é uma membrana transparente e delgada que recobre a parte branca do olho e internamente as pálpebras. Tem como função a defesa da superfície ocular contra agentes externos e a manutenção da lubrificação ocular.

Íris

Além de dar cor aos olhos – castanho, verde ou azul -, a íris tem a grande função de controlar a intensidade de luz que chega dentro do olho. Isto porque funciona como a abertura de uma máquina fotográfica. A íris tem uma pequena abertura bem no seu centro chamada de pupila, por onde passam os raios luminosos para o interior do globo ocular.

O tamanho da pupila é determinado pela contração e relaxamento dos músculos da íris e varia conforme a intensidade da luz:

– tornando-se mais dilatada quando há pouca luz (para que mais luz chegue até a retina); – estando mais contraída (fechada) quando há muita luz, para diminuir a intensidade de luz que chega no interior do olho.

Esclerótica ou esclera

É a “parte branca” que delimita a porção colorida do olho. A esclerótica ou esclera é responsável pela manutenção da forma do olho e pela proteção das estruturas oculares, já que tem uma consistência mais rígida.

Cristalino

O cristalino tem a importante função de regular o foco dos objetos conforme a distância que eles se situam do olho (como se faz com um binóculo), permitindo a visão precisa de objetos próximos e distantes.

Com o passar dos anos, o cristalino perde sua elasticidade e a capacidade de mudar sua forma. Por isso, muitas pessoas a partir dos 40 ou 50 anos necessitam de óculos para perto, especialmente para leitura, com o objetivo de compensar esta perda visual chamada, tecnicamente, de presbiopia.

A perda da transparência (opacificação) do cristalino, também freqüente em pessoas idosas, é chamada de catarata e freqüentemente leva à cegueira.

Estruturas internas Retina

A retina é um tecido fundamental para o funcionamento do olho e trabalha como o filme numa máquina fotográfica: a imagem é focalizada diretamente nela, que reveste os 2/3 posteriores na parte interna do olho. Sua função é receber as imagens, formá-las e enviá-las para o cérebro. As imagens se formam com maior nitidez na mácula, sendo mais precisas ainda na fóvea (região central da mácula).

Nervo óptico

O nervo óptico é a continuação das células nervosas da retina. Sua função é levar as imagens captadas na retina para o cérebro para formar a visão.

Métodos de visualização da retina

A retina pode ser visualizada pelo oftalmologista através da pupila. Isso pode ser feito por meio de instrumentos oftalmológicos mais simples, como o oftalmoscópio, bem como através de métodos mais sofisticados.

Fluidos intraoculares

O olho é preenchido pelo líquido intraocular, que mantém pressão suficiente no globo ocular para que fique distendido e com formato esférico. Esse líquido pode ser dividido em duas porções: humor aquoso e humor vítreo. O equilíbrio entre a formação e a reabsorção do humor aquoso regula o volume total e a pressão do líquido intra-ocular.

Medição da pressão intraocular: tonometria

 

Pelo fato de não ser prático introduzir uma agulha dentro do olho do paciente para medir a pressão intra-ocular, essa pressão é medida clinicamente por meio de um dispositivo apropriado chamado de tonômetro.

A córnea é anestesiada localmente e a base do tonômetro é colocada sobre a córnea. Uma pequena força é aplicada no êmbolo central, fazendo com que a parte da córnea situada abaixo do êmbolo seja empurrada para dentro. A quantidade desse deslocamento é registrada na escala do tonômetro e este, por sua vez, é calibrado em termos de pressão intra-ocular.

O filme lacrimal

O filme lacrimal, também conhecido como lágrima, é o mecanismo natural do organismo para proteger a superfície ocular contra infecções e contra os efeitos corrosivos da sujeira, poeira e outras partículas aéreas. Elas ajudam a criar uma superfície regular, de forma que a visão permaneça clara e sem distorções, proporcionando uma sensação de conforto nos olhos. As lágrimas fornecem uma superfície úmida e lubrificada, que se mantêm sobre o epitélio corneano.

O filme lacrimal é composto por três camadas:

– A camada mais externa, oleosa, previne a evaporação excessiva da lágrima; – A camada do meio, aquosa, mantém o olho umidificado; – A camada interna mucosa forma a ligação entre o filme lacrimal e o epitélio corneano.

Funções das lágrimas:

– Fazer da córnea uma superfície óptica, lisa e regular, favorecendo a precisão da visão; – Umedecer a córnea e a conjuntiva; – Inibir o desenvolvimento de microorganismos no olho.

Uma produção adequada de lágrimas é importante para a manutenção da saúde, do conforto e da capacidade de controle de infecções no olho. A deficiência na produção das lágrimas ou de qualquer um dos elementos componentes no filme lacrimal pode produzir o que se chama de olho seco.

Fontes: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-olho-humano/olho-humano.php

www.novartisfarma.com.br

www.oftalmo.com.br 

Video complemento sobre a anatomia do olho humano: